O cenário brasileiro nos livros nacionais - Parte 1

| 7 comentários

Olá Leitores, tudo bem ? 
Maratona Setembro Nacional está a todo vapor! Dessa vez irei apresentar a vocês livros nacionais que se passam no cenário brasileiro. Mas como assim? Se é nacional tem que se passar no Brasil! Não, vamos com calma, amigo. Não necessariamente livros nacionais tem que se passar em cenários brasileiros. Alguns autores preferem escrever e se inspirar em lugares de fora. Isso é escolha de cada um. Pásmem! Há também as distopias, que na sua maioria são mundos "fantasia" na qual o autor não se espelhou em cidade/pais algum. 

Foi feita uma pesquisa com alguns autores e fiquei bastante emocionada ao ver a colaboração de todos. Infelizmente, ainda há preconceito contra a literatura brasileira. Isso se da a vários motivos, mas o post não é sobre isso. Só deixando claro, os autores citados autorizaram a participação na Maratona e a maioria foram indicação de leitores amigos (obrigado, Thais).

A postagem foi bolada com a ajuda da autora Marcella Rossetti, que se dispôs a dar uma grande força nessa Maratona. Muito obrigada, Marcella. Você é um anjo. 


A primeira convidada é a autora Tais Cortes, escritora de Golfinhos e Tubarões e O Último Homem do Mundo, vamos conferir? 

BLOG:  Como foi escrever e descrever no seu livro o cenário brasileiro?

AUTORA: Eu escolhi a cidade de São Paulo para situar a historia de O último homem do mundo. Não cheguei a mencionar localidades especificas, mas aproveitei o fato de ser um lugar de grandes desigualdades.

BLOG: Qual foi a região/lugar/cidade escolhida? E por quê ?

AUTORA: Escrever sobre esse cenário foi normal. Eu geralmente não me foco muito em aspectos geográficos. Talvez faca isso em algum outro livro.

BLOG: O cenário brasileiro descrito nos livros nacionais ainda causa um certo pré-conceito nos leitores. Na sua opinião, isso se de a que fato?

AUTORA: Acho que o preconceito com o cenário brasileiro pode estar intimamente associado ao próprio preconceito contra a literatura brasileira.



E nossa próxima autora é Janayna Bianchi, autora de Lobos de Rua. Vamos conferir os cenários em que a autora trabalhou?

BLOG:  Como foi escrever e descrever no seu livro o cenário brasileiro?

AUTORA: Foi um prazer! Confesso que eu amo ler fantasia em cenários nacionais. Li muito Vianco, Spohr e tal, e sempre curti muito as partes passadas no Brasil, em lugares que conheço ou que consigo imaginar claramente como são.

Falando da parte prática, facilitou bastante escrever sobre Sampa por ser uma cidade que eu conheço bem. Enquanto escrevia a novela e também agora, escrevendo o romance, fui algumas vezes pra São Paulo a trabalho ou a passeio, e aproveitei pra dar uma visitada em alguns cenários que tinha imaginado. É muito legal imaginar sua história se desenrolando ali, em lugares que você pode freqüentar. 

Uma coisa que eu acho que facilita um pouco também é que você não precisa descrever como funciona TUDO quando está escrevendo sobre o Brasil, e também não cai em pegadinhas. Por exemplo: não preciso explicar que em SP você entra no ônibus e precisa pagar a passagem ou passar o cartão no leitor, e ninguém vai estranhar se eu disse que fulano passou pela catraca. Mas não é assim em todo lugar: eu morei na Dinamarca e, lá, você não paga o ônibus, você entra sem falar nada pra ninguém e só precisa apresentar seu bilhete se entrar um fiscal no carro. É difícil pensar em todos esses detalhes mundanos quando está escrevendo em um ambiente que não é o seu, e seria chato um dinamarquês pegar seu livro sobre o país dele e dizer “ué, mas a gente não paga o ônibus!”. Parece bobeira mas é um pouco o que acontece quando a gente vê algum filme que tem cenas no Brasil e as pessoas falam espanhol, sabe? Eu acho muito chato... Hehehe...

BLOG: Qual foi a região/lugar/cidade escolhida? E por quê ?

AUTORA: Tanto a minha novela já publicada quando o romance que estou escrevendo – que pertencem ao mesmo universo – são fantasias urbanas que se passam na cidade de São Paulo. E, em ambas, o principal cenário é a Galeria Creta, um estabelecimento comercial meio escuso onde a realização de qualquer desejo pode ser encontrada à venda.
Hocca, no mercadão

Aparecem vários cantos da cidade em ambos, mas citando alguns específicos: no Lobo de Rua falo do Sacomã, da Catedral da Sé, do Hocca (um restaurante bem típico que fica no mezanino do Mercadão), do Itaim Paulista (onde tem uma colônia cigana em São Paulo), do aeroporto de Guarulhos... Já no A Galeria Creta eu cito a USP, a Praça da República, o Monumento às Bandeiras...

Escolhi São Paulo como cenário pela própria natureza da história: não consigo imaginar lugar melhor do que a maior cidade do Brasil pra um estabelecimento mágico obscuro. Tem de tudo em São Paulo, e a cidade é enorme. É totalmente plausível a existência de lugares desconhecidos e criaturas estranhas...

Além disso, acho que o cenário meio caótico e cinzento de Sampa (generalizando, claro) tem tudo a ver com o clima de uma fantasia urbana mais sombria, que é a minha intenção tanto com o Lobo de Rua quanto com o A Galeria Creta. Existem lugares meio macabros na cidade, amaldiçoados, até (hehehe). E o Lobo de Rua, especificamente, ainda é protagonizado por um menino de rua e um velho imigrante italiano. Nada mais paulistano do que isso.

Ah, vale dizer que eu sou do interior do estado de São Paulo, mas tenho família na capital e moro bem perto (uma hora e pouco de carro). Toda a minha infância – e até hoje, na realidade – frequentei muito São Paulo. Então, pra mim, a cidade é familiar, de certo modo. Poderia ter escrito o livro se passando no Rio, por exemplo, mas acho que teria mais dificuldade em descrever os cenários, já que estive lá uma única vez.
Catedral da Sé
Eu não sou defensora do “só escreva sobre o que você conhece”, necessariamente – quando falo disso sempre lembro de “Budapeste”, livro que o Chico Buarque escreveu sobre a cidade sem nunca ter pisado na Hungria – mas eu acho que facilita na hora de escrever um cenário e um clima realistas para a história. Eu não sou um gênio como o Chico...

BLOG: O cenário brasileiro descrito nos livros nacionais ainda causa um certo pré-conceito nos leitores. Na sua opinião, isso se de a que fato?

AUTORA: Eu acho que isso acontece por causa de um padrão de “cenário ideal” que definimos inconscientemente quando consumimos tanta cultura e entretenimento americanos. Isso não é um problema – eu AMO e consumo muito livros, filmes e séries americanos. Acho super legal o clima de interior dos EUA que os livros do Stephen King e alguns seriados (como True Blood) têm, por exemplo. Acho legal também aquele cenário típico de chic lit: Nova Iorque ou Los Angeles ou outra cidade grande e movimentada.

Mas acho que o leitor acaba perdendo ao definir esse tipo de cenário como ÚNICO padrão. Uma história boa vai ser boa, independente do cenário... E digo mais: um cenário nacional pode muito tornar a história ainda mais tocante e agradável pra um leitor brasileiro. 

Eu sou fã dos livros do André Vianco e acho genial imaginar São Paulo ou o interior do Rio Grande do Sul ocupados por vampiros. Acho muito legal quando o autor também cria um universo novo, mas ele não tem aquele padrão europeu de idade média – um exemplo que eu dou é a série A Canção de Quatrocantos, do V. M. Gonçalves, que criou um universo todo baseado nas culturas americanas (pré-colombianas e indígenas). Não deixa de ter um clima nacional muito legal. 

O que eu vejo é que quando o leitor nacional abre a mente pra esses “novos” cenários – veja que maluquice, dizer que nosso próprio país é um NOVO cenário, hehe... – ele acaba se apaixonando. 

O pessoal diz uma coisa sobre o Stephen King e eu acho que se aplica bem nesse caso: o que torna os livros dele muito envolventes é o fato de que ele faz a história parecer muito real. As coisas que as pessoas comem, como elas falam, por onde elas andam: é tudo muito verossímil. Assim, quando aparece o aspecto fantasioso ou sobrenatural da história, você toma um susto. Fica mais fácil acreditar que aquilo é verdade, porque todo o resto é muito real, entende? Tentei fazer isso com Lobo de Rua. Você está lendo sobre um menino de rua paulistano e de repente descobre que ele é um lobisomem. Quero que o leitor fique com medo de andar por São Paulo na lua cheia.

Confiram os livros das autoras: 
Fan page do livro - Página da autora
Sinopse: Raul é um​ morador de rua​, um menino invisível ​como tantos outros. ​C​omo se sua desgraça​ não fosse suficiente, ​o garoto​​​ descobre-se portador da licantropia, maldição que o transforma em fera sempre que a lua cheia ocupa o céu. Tito Agnelli​ é um velho imigrante italiano.​ ​Ele ​não compartilha do abandono de Raul, mas conhece muito bem a sensação de ser rasgado por dentr​o ​pela coisa vil​ e selvagem​ que se abriga nele.​ ​
C​ompadecido com o sofrimento do recém-transformado, Tito ​​acolhe Raul ​e reabre a Alcateia de São Paulo, extinta até então por falta de ​lupinos residentes na Pauliceia. Depois de décadas de contaminação, ​Tito conhece cada detalhe da maldição​ com que precisam lidar​.​ ​E conhece também a Galeria Creta, um lugar​ em São Paulo onde​, na lua cheia,​​ há sempre um abrigo seguro​ para ele e para outros dos seus.

Basta pagar o preço.

Sinopse: Aos cinco anos, Victoria foi adotada por Ana, presidente de uma indústria de cosméticos, e Greg, um bem-sucedido advogado. Ela não entende por que não se lembra dos verdadeiros pais e não acredita na suposta causa da morte deles.Ao completar quinze anos, estranhas mudanças começam a acontecer. Seus cabelos ruivos escurecem, ela se torna cada vez mais forte e rápida, seus sentidos ficam aguçados e alguns dos seus sonhos passam a ser premonições.
Após a visita de um casal peculiar, ela é levada para um mundo desconhecido e único, onde terá que aprender a controlar suas habilidades, freqüentando aulas diferentes de tudo o que já viu.
Lá ela conhece Alex. A atração entre os dois é imediata, mas ele se recusa a se aproximar de Victoria e de qualquer outro aluno. Ainda assim, o destino se encarrega de uni-los e Alex passa a protegê-la e ajudá-la.
O que Victoria não sabe é que ele esconde um segredo que mudará sua vida, e que o passado pode estar mais perto do que eles imaginam...

Como tivemos uma grande participação de autores os post estarão sendo divididos. Portanto, aguardem que na semana que vem teremos muito mais. Gostaria de agradecer as autoras que cederam um tempo para as perguntas, muito obrigado meninas. Desejo todo sucesso para vocês. 
Beijos, 

7 comentários:

  1. Golfinhos e Tubarões eu já li. Aliás, é uma excelente obra.
    Agora preciso ler Lobo de Rua.

    Desbrava(dores) de livros - Participe do nosso top comentarista de setembro. Serão dois vencedores.

    ResponderExcluir
  2. Nossa! Ficou incrível a postagem. Adorei! É muito bom conhecer autores que apostam em cenários nacionais. Como a Janayna comentou, é muito legal ver nosso país sendo palco de histórias incríveis e sobrenaturais.
    bjosss

    ResponderExcluir
  3. Que maravilha de reportagem! Sei bem como é isso. Escrevo terror no nordeste e do nordeste!

    ResponderExcluir
  4. Oi Yasmim!
    Confesso que prefiro livros ambientados em locais fictícios, mas é claro que ler cenas que se passam no Brasil, tem, sim, um gostinho especial!

    http://maisumapaginalivros.blogspot.com.br/2015/08/promocao-vamos-colorir.html
    Mais Uma Página - tá rolando promoção, corre lá!

    ResponderExcluir
  5. Oi Yasmim!
    Li poucos livros que se passam no Brasil(sem contar os que mandam na escola), mas os que li gostei bastante, porque os autores souberam explorar bem a ambientação.
    Os livros da Janayna Bianchi me pareceram ótimos, se possível tentarei lê-los

    http://os-jovens-leitores.blogspot.com.br/

    ResponderExcluir
  6. Oii, Yasmim
    Gostei bastante do post e de participar dessa TAG tão especial!
    Obrigada pelo convite!
    Bjsss
    e sucesso ao blog!

    ResponderExcluir
  7. Oi, tudo bem?
    Adorei o post e concordo com a Thais que o preconceito com cenário brasileiro é reflexo do preconceito com a literatura brasileira. Pessoalmente, prefiro livros nacionais se passando no Brasil, a menos que haja algum motivo real para a troca do cenário, como em distopias, ou uma história que precisa de um contexto social ou leis diferentes daqui para ser possíveis.
    beijos
    http://meumundinhoficticio.blogspot.com.br

    ResponderExcluir

O blog Miih e o Mundo Literário agradece pelo comentário.